1 de setembro de 2014

O amor e outras cenas esquisitas

Há uns dias perguntaram-me se eu acreditava nesta coisa do amor para sempre.

Foi uma conversa pouco provável, tida com uma pessoa ainda mais improvável. Porque a pergunta foi feita por um miúdo de 20 e poucos anos, giro que dói, na flor da idade e no auge da sua sexualidade.

Tenho que confessar que fui surpreendida pela profundidade da questão. Querer perceber isto do amor para sempre seria, à partida, um tema pouco interessante para um jovem desta idade. 

Achava eu. Mas há exceções. E ainda bem.

Explicava-me que gostava de namorar mas que não pensava prender-se facilmente por nenhuma miúda.

Confessou-me ainda que perdia rapidamente o interesse por elas porque, ou eram demasiado atrevidas ou demasiado acriançadas. Não lhe prendiam a atenção. Nem o coração.

Falou-me apenas daquela que ficou longe, na terra onde cresceu, e que encontrava sempre que lá ia. E que de alguma forma ainda mexia com ele. Mas já com alguma distância no discurso, senti eu.

Tenho quase 39 anos e, por isso, alguma experiência de vida. Respondi-lhe com o que ela me ensinou: que todos nós tinhamos um botão de alarme com dois níveis.

Que o primeiro era inflamação, vontade, corpo, “beijo à filme” e pressa em viver tudo num segundo. Era sofreguidão, vontade de estar, "nunca-mais-chega-a-hora-nunca-mais-chega-a-hora”. Algumas vezes, dor e lágrimas. O segundo era calma, tranquilidade, saborear, companheirismo, partilha de interesses e de opiniões, conhecimento, união, um “eu-estou-aqui-contigo-e-para-ti”. Complementaridade.

Que o primeiro durava pouco, tirava-nos o sono e o apetite, mas que era maravilhoso porque nos fazia sair da cama num salto. E que o segundo nos devolvia a paz, a tranquilidade, a vontade de existir devagar, um dia de cada vez. E que nos fazia sonhar com um “eu quero mesmo viver para sempre assim”.

Mais. Que também havia casos, raros mas havia, em que o 1º e o 2º nível do botão tinham uma relação muito equilibrada e durante muitos anos.

Ia-me acenando com a cabeça, como quem vai percebendo devagarinho que ainda tanto tem para viver. E aprender. E descobrir. 

Apesar de alguma desconfiança, ouviu a minha opinião. Pareceu dar-me o benefício da dúvida e acreditar que o destino ainda ia acabar por lhe trocar as voltas e passa-lo para o 2º nível. Na minha opinião, fazê-lo subir de nível. 

No fim da conversa pareceu-me um bocadinho assustado. Só que igualmente curioso para ver o que podia vir dali.

Não sou a pessoa mais crente nos jovens desta geração. Mas, se existem cabeças destas, acho que vou ter que mudar de opinião...


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