6 de julho de 2014

O que aprendi com os anos

Decididamente, estou melhor com a idade.

Há uns anos, toda eu era convicções. De que ia ser jornalista de televisão, mais tarde de que ia voltar a andar, de que nunca ia querer ser mãe, de que tinha sempre razão.

Com o tempo, com o avançar do tempo, as certezas deram lugar às dúvidas, aos “ talvez não”.

Não fui jornalista, não voltei a andar, gostava de ter sido mãe e tantas são as vezes em que não tenho razão.

Fui uma jovem com o coração na boca. Bem-disposta, divertida, feliz, rodeada de amigos, mas que fervia em pouca água. Na história feminina da minha família nunca houve mulheres calmas, eu não fui exceção.

Também acho que nunca soube o que eram inimigos de verdade. Daqueles com quem deliberadamente travamos lutas corpo a corpo, numa raiva assumida. Contra quem traçamos planos de ataque para que saiam do nosso caminho. Nunca soube porque, vendo bem, quem não devia estar no meu, com o tempo – e, lá está, o tempo – acabou por ir saindo. Mas a verdade é que nunca fui uma pessoa de grandes confrontos e conflitos.

Não que não tenha força e coragem para ir à luta se for preciso ou, no limite, dar uma boa chapada na tromba de alguém. Só defino relativamente bem onde gasto a minha energia.

Os anos, e sobretudo alguns dos momentos pelos quais passei, trouxeram-me alguma tranquilidade, mais ponderação. Novas perspetivas.

Percebi que nunca vamos agradar a todos e que nunca vamos conseguir estar apenas rodeados de quem gostamos. Por isso tornei-me especialista em distinguir entre amigos e Amigos, entre conhecidos e Conhecidos. Sem dramas por saber que temos que fazer esta distinção. A vida é mesmo assim. É uma questão de adaptar o discurso e o comportamento.

Aprendi a aceitar as coisas como elas são, dando-lhe apenas a devida importância.

Só que as experiências que os anos nos trazem também nos vão moldando como se fossemos uma peça de barro que vai ganhando forma nas mãos de alguém. A verdade é nem sempre consigo agir da maneira mais distanciada. Se por um lado os anos me acalmaram as entranhas, por outro tornaram-me mais sincera, mais honesta, mais verdadeira. Talvez por isso, tenha passado a ser cada vez menos tolerante perante algumas situações que antes aceitava ou engolia, deixava passar. Nem ligava, acho eu.


Quem bem me conhece, sabe que hoje tento não fazer senão aqueles fretes inevitáveis. Quem bem me conhece, sabe que hoje não deixo de dizer o que me vai no coração, se achar que ouvir o que sinto ajudará quem está à minha frente. Quem bem me conhece, sabe que comigo, hoje mais do que nunca, não colam conversas de gorduras, corpos perfeitos, cabelos, unhas e compras. Que se há coisa que me enerva é a vidinha “Sexo e a Cidade”. E não é por não gostar de estar em forma, de cabelos arranjados, unha feita e enfeirar. Só me encanita o excesso.

Não lido bem com quem não consegue elogiar, com quem não dá uma palmadinha nas costas. Com quem dá feedback para o lado em vez de o fazer na direção certa. Gente que começa as frases por “não” em vez de “sim”.

Não lido bem com gente que fala nas costas. Gente que ouve aqui e conta ali, achando-se melhor por ter mais informação que os outros. Não lido bem com pessoas que muram o seu quintal e que não deixam ninguém entrar lá dentro. Não tolero pessoas que escolhem a dedo os alvos que os podem fazer subir na vida e que por isso os cobrem com elogios. Ou aquela gentinha que nos tenta manipular para conseguir o que quer, os amigos de momento.

Não percebo quem não gosta de crianças e animais. Quem apenas vê e não contempla. Quem não ouve o coração. Quem não tenta fazer a diferença na vida de alguém, por pequena que seja essa diferença. Quem tudo tem e nada dá a quem nada tem. Quem fecha os olhos ou desvia o olhar quando passa por quem precisa, só para não sentir o coração mais pequeno e ter mesmo que ajudar. Quem faz caridade em vez de solidariedade.

Aprendi a olhar para quem se aproxima de mim e a fazer uma análise muito simples: ou tem dentro dela algo que eu sinto no meu coração que vale a pena, ou sai fora. Ou encontro ali valores e princípios que cruzam bem com os meus, ou nada feito. No limite, ou é alguém que, perdido, precisa e quer uma orientação para melhorar, ou nem perco tempo.

Estou quase com 40 anos. Atingi, muito provavelmente, metade do tempo que irei viver. Por isso, um dos meus objetivos de vida é tornar a rede do filtro cada vez mais fina. Para poder viver tranquila, sem máscaras. E chegar ao dia em que nem sequer vou precisar de ter alguma coisa para filtrar. 

É que isto agora vai passar muito mais rápido e eu quero aproveitar.

4 comentários:

  1. Gosto tanto de ler o teu blog ! A minha filha Marta, na semana a seguir à inauguração do Golf Club, e depois de ver as nossas fotografias, leu o teu blog todo ! Adorou ! Claro que me fez 1001 perguntas sobre ti ! Acho que ficou tua fã, tal como eu ! Parabéns e muitos beijinhos !

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  2. Marta, Sempre em Grande e em Bom!!! Beijinhosss

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  3. Olá Marta, é assim mesmo os anos passam e forçosamente acumulamos conhecimento, não apenas das coisas técnicas e profissionais, aprofundamos conhecimento sobre nós e sobre os outros, sobre o mundo em geral e vamos aos poucos como que saindo de dentro de nós e passamos a ter o foco de visão mais abrangente e isso permite-nos fazer escolhas e tomar decisões diferentes das que tomávamos, dirão: mudámos. Sem dúvida que sim mas acima de tudo aprendemos e continuaremos a aprender, somos assim mesmo...

    Beijo Marta
    Bruno

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