Passamos o dia preocupados com os prazos para cumprir, a olhar para o relógio, em reuniões, agarrados
ao telefone. A tratar dos filhos, da casa. A contar os trocos para chegar ao fim do mês. Ficamos cansados. Por vezes engolimos
tantos sapos que chegamos a duvidar das nossas capacidades.
Depois há alguém que nos abre os olhos com uma palavra, um gesto, nos puxa o lustre e que nos mostra todo o brilho que temos, o que valemos.
Sou uma gaja porreira. Feitio lixado, teimosa também, mas
porreira.
Amiga dos meus amigos. Mas sem lamechices pelo meio.
Fui mimada em criança, mas não sou de grandes abracinhos ou agarranços. Sou
de estar lá quando é preciso. Seja para dar um beijo, um abraço. Ou uma bronca.
Não sou a pessoa mais ternurenta do mundo, talvez a vida me tenha endurecido um bocadinho, mas sei ser ternurenta quando é preciso. E depois, claro, há meia dúzia de pessoas que me inspiram mais ternura e em
que gosto mais de tocar. Vá, se calhar meia dúzia é muito.
Mas isto não significa que não goste que me abracem. Só não curto exageros
e “gente cola-tudo”.
Sou justa. Regra geral consigo sair da situação, olhá-la de fora, e analisar
a coisa de uma forma minimamente racional. E decido “contra mim”, se for
necessário.
Sou bem-disposta. Gosto de uma boa gargalhada. Mas não me rio por “dá cá
aquela palha”.
Gente exagerada põe-me doente. Gente que chora demais. Gente de grita
demais. Gente que bebe demais. Gente que dorme demais. Gente lenta demais. Gente eléctrica demais. Gente que come demais. Gente que ri demais. Gente trombuda demais. Gente inteligente demais. Gente burra
demais. Gente que não sabe onde está o seu limite. Limite máximo ou limite
mínimo. Gosto de gente equilibrada, é só isso. E, atenção que eu nem sempre sou.
Tenho dias em que passo por todos os estádios acima. Por isso não são poucas as vezes que sou alvo da minha própria irritação.
Sempre soube mais ou menos o caminho que queria seguir. Da mesma forma que
sempre soube o que não queria.
Por isso nunca me droguei, nunca fiz figuras tristes com a bebida - apesar de
ter apanhado boas/divertidas e inesquecíveis bebedeiras - nunca arranjei
problemas de maior a quem me rodeia.
Sempre me considerei uma pessoa segura. Mas sem vergonha nenhuma de assumir que tenho
momentos de insegurança. Nessas alturas olho para dentro de mim e percebo que
gosto do que vejo. Gosto, aliás, muito do que vejo. Acredito nas minhas capacidades
e avanço. Algumas vezes com o cu apertado, mas avanço. Quando não consigo isto sozinha, vou ter com alguém que me ajude a olhar cá para dentro. Está tudo cá dentro.
Porque me lembro de tudo o que passei, e ainda passo, para conseguir
sobreviver num país que não está preparado para pessoas como eu, com mobilidade
reduzida.
Porque me lembro que, mesmo sentada numa cadeira de rodas, e com todas as
mazelas que me marcam o corpo por causa disso, continuo a sentir-me mulher e
feliz.
Porque olho para o meu percurso profissional e percebo que só
alguém com garra o poderia ter feito. Ainda para mais sentada numa cadeira.
Porque olho para o meu núcleo de amigos e sinto que só as boas pessoas têm a
sorte de estar rodeadas de gente assim.
Porque olho para os pinduricalhos que não gostam de mim e sinto que só as boas pessoas têm
inimigos destes.
Porque olho para o espelho e continua a apetecer-me pintar o cabelo, por batom,
rímel, blush, pintar as unhas com cores fluorescentes. Arranjar-me. Estar bem. Para mim e para quem que
me vê.
Não sou nem vou lutar para ser perfeita, porque isso não existe. Mas não tenho dúvidas que sou uma gaja
5*. Daquelas que vale a pena ter como amiga. Como colega. Como filha. Como
irmã. Como tia.
Mesmo com todos os meus defeitos, tenho um orgulho do caraças em
mim e em ser como sou.
E quanto aos poucos que ainda tentam passar-me aquela rasteirinha marota, tantas
vezes movidos por invejas estranhas que nunca entenderei, jamais se esqueçam: estou
sentada, meus caros; não tropeço. Quanto muito passo-vos com as rodas
por cima dos pezinhos.
Aos outros: acreditem em vocês. Adorem-se. Todos os dias.
Aos outros: acreditem em vocês. Adorem-se. Todos os dias.
Adorei!!!
ResponderEliminarÉs a maior Marta ;)
Muito bem dito. Boa mensagem.
ResponderEliminarAbraço,
Bruno
Bela mensagem, muito bonita mesmo, muitas vezes dou por mim bem em baixo e estas suas palavras que acabei de ler soaram magicas .
ResponderEliminarDeveria ser lida por muito boa gente.
Ofereceram-me hoje de manhã o livro das Selecções Reader`s Digest, e foi assim que por acaso fiquei conhecendo sua historia , confesso que me emocionei, a Marta é uma Mulher com M mais que maiúsculo , não tenho palavras , e até podia passar sem lhe mandar esta mensagem pois sou uma completa estranha para a Marta , mas senti vontade de o fazer só para a parabenizar pela Mulher forte, corajosa e vencedora que é .
Só lhe posso desejar as maiores felicidades e tudo de bom.
Ah já agora adorei seu blog.
Muitos beijinhos.
Cris
Obrigada Cristina, fico tão feliz de saber que ajudo e puxo para cima!
ResponderEliminarE, já agora, parabéns pela Crisarte. É tudo giro, mas as bonecas dos cabelos compridos matam-me!
1000 parabéns!
bjinho,
marta
Marta,quanto mais navego nos teus escritos,mais fico com a certeza de que és especial, estás muito acima dos et,s inhos (aqueles que só usam os olhos e não os neuronios)
ResponderEliminarModestias á parte,eu tmb sou assim, noutra vertente, também sei o que é ter et,s á volta de mim.
O mundo necessita de pessoas como tu, podia dizer como nós,mas a estrela cintilante aqui tem nome de Marta, e se escrevo isto
podes ter a certeza de que não é para agradar,ou fazer favor,assim como tu eu também digo o que penso.
Em frente até aos 150.
Kiss,
Rui tartyuz
I Love Me,
ResponderEliminarNo fundo, sinto que somos iguais,devemos ser feitos da mesma matéria,se todos fossem assim,viviamos num paraiso.
Kiss,
R.T