12 de abril de 2013

Para, escuta, olha. E ajuda.

Às vezes dou por mim a pensar na sorte que tenho. É um exercício que faço com alguma regularidade. Até porque no turbilhão dos dias, todos damos por nós…a ter pena de nós. Se não for a ter pena, será pelo menos a refilar com alguma coisa. E eu não sou excepção.

Ou é porque temos muito trabalho. Ou porque passamos demasiado tempo no trânsito. Ou porque estamos gordas. Ou porque chegamos a casa e ainda temos que ir fazer máquinas de roupa. Ou porque chove. Ou porque está calor. Ou porque…enfim, qualquer coisa serve. Porque há sempre alguma coisa.
E isto é estúpido. É muito estúpido. É mais que isto. É ridículo e injusto.

Porque hoje em dia é uma sorte: ter trabalho, ter um carro e dinheiro para a gasolina, ter comida, ter uma casa, sentir a chuva e o sol na pele.
Porque hoje em dia, há quem não tenha nada. Nada de nada. Porque hoje em dia, há quem nem um amigo tenha para poder pedir ajuda. Para chorar.

Porque hoje em dia, há quem durma na rua, ao frio. Enrolado em caixas de papelão que desmancham e com que se tapam para cortar o frio. Sempre houve, é certo, mas agora há mais. Tantos mais…

É preciso parar para pensar. Contra mim falo, que tantas vezes me incluo naquele grupo de pessoas que, quando se dá conta, está a refilar com tudo. Cada vez menos. Felizmente, cada vez menos.


Porque a vida, com tudo o que ela me trouxe de pior, também me trouxe o melhor. Ensinou-me, pelo menos, a parar, escutar e olhar. Olhar para a sorte que tenho em ter uma vida equilibrada, com amigos, conforto, trabalho. Uma cama onde posso descansar. Onde posso dormir, acordar e saber que tenho café fresco, bolo de laranja, bolachas e manteiga para o pequeno-almoço.
E que a seguir tenho uma casa de banho onde posso tomar um bom banho quente, pôr a minha máscara no cabelo, os meus cremes no corpo. Uma prateleira cheia de tudo.

E que vai haver o que comer ao almoço e ao jantar. Naquele dia e nos dias seguintes. Uns dias com mais dinheiro, outros com menos, mas sempre com o que sirva as minhas necessidades. Mesmo que sem luxos.
Quantas pessoas têm esta sorte? E quantas pessoas também a tinham e deixaram de ter? De um momento para o outro acaba o dinheiro, vai-se a comida, depois o carro, depois a casa. E, porque como diz o velho ditado “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”, no fim desmembra-se uma família. Ou por isso ou porque é preciso partir para outro país à procura de dinheiro para a comida, o carro, a casa. Para viver. Para sobreviver. Sim, porque viver já começa a ser um luxo.

Depois deparo-me com a história de uma miúda que parece ter tudo o que falta a tantos, mas que se despe desse tudo, arranca para um país longínquo e decide viver meses quase na miséria. Mas feliz porque ensina crianças que vivem nessa miséria. E porque consegue tornar a vida desses miúdos menos miserável. É assim que essa jovem dedica tempo da sua vida: na maior favela do mundo, num qualquer país africano, a ajudar os outros. Depois volta para cá. Mas volta para ajudar os que cá também precisam de ajuda. Contudo, sempre com a promessa de voltar para lá, para garantir que aquela dúzia e meia de crianças pode ter mais um ano de novas palavras, conhecimento, uma oportunidade.
 
O mundo está virado de pernas para o ar. Não é a primeira vez que o digo aqui. Nem será, certamente, a última. Mas está mesmo.
A riqueza está toda concentrada. E cada vez mais. E a pobreza aumenta a cada dia que passa. Por cá e por lá. Por todo o lado. Mais do que nunca, à vista de todos.

Por isso, temos que fazer um exercício muito importante: paremos para pensar, caramba. Não só em nós, que no meio desta porcaria toda ainda nos vamos safando, mas naqueles que já não se safam sozinhos.

Às vezes basta um sorriso. Uma graçola. Um abraço. Uma palavra que traga esperança. Às vezes basta olharmos menos para o nosso umbigo e darmos um bocadinho de nós. Sem esperar retorno. Só dar. Não custa nada. E faz-nos tão bem…
Hoje somos nós a ajudar. Mas como as coisas estão, um dia pode ser a nossa vez de precisar de ajuda. E vai saber-nos bem ter lá alguém para nos dar a mão.

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