17 de abril de 2013

"Não tenha medo da perfeição. Você nunca a vai atingir."





Há uns dias circulou nas redes sociais uma campanha de publicidade brilhantemente criada por um português, da Maia, que me emocionou. E o que me emociona, regra geral, inspira-me.
Fala sobre um tema em que poucos pensam e, se pensam, poucos falam. E por pouco se falar, torna-se num problema.

Fala sobre gostarmos de nós. Ou melhor, sobre o não gostarmos de nós.
Fala, em particular, do nosso corpo. De não nos contentarmos com o que a natureza nos reservou. É muito mais um problema feminino que masculino. Apesar da balança se começar a equilibrar nos dia de hoje, até nisto.

Todos nós nascemos com um aspecto. Com um feitio de corpo, um tipo de cara, uma forma e cor de cabelo. Com um conjunto de pontos que, unidos, formam a nossa figura. O tal “aspecto”.
Mas a campanha vai mais longe, fala sobre mais do que isto. Fala sobre a diferença entre a forma como nos vemos e a forma como os outros nos vêem.

Fala sobre aceitarmos as nossas imperfeições. Olharmos para elas com um certo carinho. São nossas.
Fala sobre o avançar da idade, o chegar das rugas e dos cabelos brancos. Fala de estar vivo.

Fala sobre percebermos que, ao aceitarmos o que temos de menos bonito – e atenção que eu não uso a palavra “feio” -, somos pessoas mais completas e mais equilibradas. Inteiras.
Mas nada como dar um exemplo. E nada como me usar a mim como tal.

Antes de ficar de cadeira de rodas, até aos 15 anos, era uma “pequena mulher”. Pequena porque era quase uma criança, mulher porque o corpo já se tinha desenvolvido bastante. Na altura, eram poucos os que me davam a idade que, de facto, tinha.
Quando me acontece o acidente que me deixa de cadeira de rodas, muita coisa mudou. E o corpo foi uma delas.

Emagreci quilos atrás de quilos. Fiquei literalmente pele e osso. Perdi tudo o que me poderia tornar mulher.
Com o tempo, fui recuperando o peso, as curvas e a coisa foi-se recompondo..

Anos depois deparo-me com uma septicemia e voltei ao modo “tábua-de engomar-nº2" lá de casa. Todos os quilos que até ali tinha ganho, voltaram a desaparecer. Estava com aspecto de doente. E estava mesmo.
Na altura olhava para o espelho e não gostava do que via. Não encontrava roupa que disfarçasse a magreza e os ossos. Nada me assentava no corpo.

Na altura tentava lidar o melhor possível com a situação, mas não foi fácil.
Depois de 1 ano e meio de recuperação dos internamentos e das cirurgias, o meu corpo volta a estabilizar. E, porque voltou a ser saudável, atrás disso vieram os quilos. Sem infecções, voltou o apetite.

Na altura da septicemia devo ter estado um ano sem fome ou a comer mal. Quando me vi livre da má disposição e recuperei a vontade de comer, não me privei de nada. Resultado: passei um bocadinho do peso “ideal”. Ou melhor, passei a ter o peso “ideal” para não ter feridas, logo, infecções, mas ultrapassei o peso “ideal” para caber em todas as roupas.

Acabei por me habituar. Nada como comprar um ou dois números acima e quase tudo volta ao normal. Mas este facto também implicou habituar-me a viver com esses um ou dois números acima.
Hoje olho para o espelho e, apesar de gostar do que vejo, claro que mudaria algumas coisas. Mas não conheço ninguém que não mudasse. Por isso posso considerar-me, no mínimo, dentro da média.

A verdade é que, perto dos 40,o corpo já não é o mesmo que aos 20. A lei da gravidade já espreita, as dietas não surtem efeito como antigamente, alguns dos cabelos já são brancos, as rugas já fazem parte de um sorriso mais aberto.
Para além disso, todas as cirurgias pelas quais passei deixaram marcas. Cicatrizes. Mas também aprendi a conviver com elas. São bonitas? Não, não são. Se as exponho? Só se precisar mesmo. Se as aceito? Caro que sim! Prefiro olhar para elas como marcas de ter sobrevivido a um momento mau da minha vida. Um momento que já lá vai. Que faz parte da história. Da minha história. E que, só por isso, e apesar disso, nunca vou querer esquecer.

Este é o meu exemplo. É extremo, verdade, mas é aquele que posso partilhar convosco.
Também sei que a verdadeira beleza vem de dentro. Parece um cliché mas é verdade. Quantas pessoas bonitas por fora abrem a boca e perdem a graça? Quantas pessoas menos interessantes fisicamente quando o fazem fascinam qualquer um/a?

Muito bem, todos concordamos com isto. Mas também é verdade que ainda não existe visão rx para conseguir, num primeiro olhar, perceber a beleza interior e, por isso, o que está cá fora é muito importante. É o que causa a primeira impressão. E a primeira impressão é, normalmente, a que fica.
Mas aceitar o aspecto com que nascemos não invalida que não o tentemos melhorar, caso não gostemos do que vemos. Que venham de lá essas dietas, sempre com exercício físico, e até as plásticas! Porque não? Desde que não se entre em excessos, porque não?

E depois, tudo o que não se resolve com as ditas dietas, exercício ou plásticas, resolve-se com pequenos truques. Barriga grande, camisola larga na zona, braços gordos, camisolas “asas de morcego”, pernas curtas, sapatos com saltos mais altos, olhos pequenos demais, um bocadinho de maquilhagem no local certo, etc, etc, etc…! Há que saber valorizar o que de melhor temos, disfarçando o que temos de menos, eu diria, perfeito. Há sempre uma solução. Sejamos espertas (e espertos) e façamos um esforço para encontrar a que melhor se adequa a nós.
Mas antes de tudo isto, há uma regra de ouro: aceitar o corpo com que nascemos. Porque há coisas que não conseguimos mudar. É fácil? Às vezes não é. Mas é algo que tem que ser trabalhado. Fazer tudo para melhorar. Aceitar. Até porque, quem nasceu com as ancas largas, nunca as vai ter estreitas, e quem nasceu com 1m60, nunca terá 1m80. Aceitar. E melhorar o que pode ser melhorado.

Porque uma coisa é certa: se aceitarmos, vamos ser muito mais felizes. E, tal como o contrário acontece, se nos acharmos bonitas, os outros vão achar-nos deslumbrantes. Se nos acharmos bonitas, vamos ser mais seguras. Se formos mais seguras, passamos mais credibilidade e força. Se passarmos esta força, chegamos mais longe. E o longe pode ser meeeesmo muito longe!
A campanha criada pelo rapaz da Maia fez-me pensar nisto. Fez-me pensar em tudo o que o meu corpo já passou. Que houve tempos em que o espelho do quarto quase saiu disparado pela janela. Mas não saiu e ainda hoje está. E que hoje gosto de olhar para ele.

Esta campanha fez mais que isto: lembrou-me que, para além dos percalços da vida, a idade também se vai reflectindo no corpo, e que contra isso nada poderemos fazer. A não ser aceitar que a vida é mesmo assim, aprender a valorizarmos o que de melhor temos, e aproveitar a vida. Até porque ela é curtinha!
E termino com o que me emocionou, esperando que vos inspire. A criatividade do Hugo Veiga, um rapaz do norte. Vejam com atenção e pensem bem na mensagem que ele passa. Partilhem.

Porque é preciso pôr toda a gente a sentir-se a pessoa mais bonita do mundo.

3 comentários:

  1. Só vi hj o vídeo. Já tinha lido o teu post mas na altura em que o li estava limtidao a texto sem possibilidade de aceder visualização do video. Está excelente, só me apetece juntar uma data de amigos e anóminos e fazermos todos esta experiência.

    Tá espectacular, o aceitar-mo-nos e valorizar-mo-nos tem que se lhes diga. Excelente!

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  2. És uma inspiração, Marta ;)
    Vitor Gaspar

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