30 de abril de 2013

Dias de neura.

Há dias em que não há mesmo nada a fazer. Acordo de neura, passo o dia de neura, vou para a cama de neura. Hoje, até ver, é o dia.

Normalmente isto pode acontecer-me porque:

1.      acordei com enxaqueca e não há medicamento nenhum que a mande bugiar

2.      acordei sem energia para arregaçar mangas

3.      porque estou com um problema qualquer, pessoal ou de trabalho, que insiste em não me sair da cabeça

Ora bem, hoje foi o dia da primeira, que passou mas deixou rasto e deu lugar à segunda e, claro, existe sempre o terceiro mas, nos dias como os de hoje, ganha uma dimensão anormal, muito ajudado pelos dois primeiros.
Fiz-me entender? Se calhar não, mas é provável que hoje ninguém me entenda. Tudo bem, avancemos.

As boas notícias? É que isto não me acontece assim tantas vezes.
Nestes dias, nestes dias maus, tento distrair-me indo até ao Facebook, mas acabo por ficar ainda mais irritada: frases de motivação a mais (lamechas e batidíssimas), músicas que mexem com o meu frágil sistema nervoso, posts desinteressantes e com montanhas de erros de português.

Desisto e vou à varanda olhar para o pinhal, esperando inspirar-me numa voadela de um corvo, numa graçola do gato coxo, ou rir-me de mais um “andar à miss” da vizinha da frente, que de miss nada tem mas que ainda não percebeu. Volto para dentro porque não há corvos, não há gato, nem a vizinha apareceu. E porque, em plena Primavera, está um frio de rachar e um vento de cortar. O que ajuda imenso à festa.
Entre um e outro email, entre um e outro texto de trabalho, ligo a televisão. Passo a vida a fazer zapping. Nada se aproveita. Nestes dias, nem as séries com que me delicio à noite, deitada na cama, me entusiasmam. O que não se explica, porque são as mesmas que dão durante o dia. Enfim.

Aproveito a hora de almoço para pegar no livro que estou a ler. Nem uma linha leio.
Deito-me em cima da cama na esperança de melhorar com 30 minutos reparadores. Fecho os olhos, respiro fundo. Agora é que vai ser, agora é que vai ser. Três ou quatro minutos depois abro um olho, depois o outro. Nada a fazer. Esqueço os 30 minutos de tentativa de me recompor. De encontrar força anímica, como dizia o outro que foi e que, espero, já não volte.

Continuo a trabalhar, no registo “porque sim”. Porque tem mesmo que ser. Mesmo as boas notícias, os momentos de produtividade, me deixam na mesma.
Entediada. É essa a palavra. Impaciente. Também serve. Depois, entediada e impaciente, regra geral, dá barraca: vem aí o mau feitio. E, como aqui em casa, ou no trabalho, ninguém tem obrigação de me aturar, ou arranjo confusão ou guardo tudo cá dentro. Nem uma nem a outra me fazem bem. Se bem que, a ter que escolher, escolho a primeira.
No fim, acabo sozinha, no meu canto, no meu quarto, na minha cama. A olhar para o tecto e a rogar pragas a mim própria por não ter conseguido libertar-me da energia negativa com que acordei. Porque me deixei envolver nela e, quando dei por isso, o dia já tinha passado. Mais um dia que não vivi como gosto. Com gosto. Fico furiosa, porque fiz tudo o que em tempos prometi a mim própria que não faria: desperdiçar mais um minuto da minha vida. Hoje desperdicei horas. Que nunca mais vou recuperar. Penso "inteligente, Marta, muito inteligente..."

O dia está a terminar. E por isso agarro-me à ideia de ter uma criatura de 9 anos, feliz por natureza, eléctrica por natureza, quase a entrar-me pela porta a dentro e a contagiar-me com a felicidade que traz agarrada ao corpo e à alma.

Que dali venha a energia que não encontrei durante o dia. Que as canções que canta, desde que entra na minha casa até que sai, me distraiam. Que os abraços e beijos que me dá enrolada na toalha de banho me adormeçam os nervos. Os que têm razão de ser, e os que não têm, mas que hoje ganharam estupidamente espaço.

Aliás, vendo bem, só de pensar nela as energias positivas estão a voltar.

                            (pausa para sentir melhor as energias a voltar)

Afinal, o dia não terminou e ainda não perdi tudo. Do meu lado, algo que só de mim depende: um esforço maior para que acabe bem. Para que, quando chegar a hora de ir para o meu canto, não dê o dia como perdido. Por me ter irritado, ou por ter irritado alguém.

E acreditar que amanhã o dia vai ser fantástico. Porque a verdade é que nós, eu e quem eu chateio estando assim, não merecemos que seja de outra forma.

Por fim, para os que ainda achavam que eu não tinha dias de neura - que são cada vez menos, eu sei -, aqui está a prova do contrário. :)

1 comentário:

  1. pois acontece acordarmos assim. As melhoras. Podes me ler tb aqui: www.folhasdepapelonline.blogspot.com

    Fica bem e aguardo-te por lá, caso queiras, claro.Isa

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