7 de abril de 2013

Ao meu melhor amigo.

Faz hoje um ano que a vida me deu um murro no estômago. Daqueles que, mesmo sendo no estômago, me esmagou lá no fundo e chegou ao coração.

Faz hoje um ano que senti na pele o que foi perder uma pequena, mas tão importante, parte de mim.
Porque faz hoje um ano que, sem pré-aviso, a vida me levou aquele que era o meu melhor amigo.
Um ser, vivo como eu, mas em muitas coisas mais perfeito do que eu. Mais amigo. Mais fiel. Mais paciente. Mais feliz com o que tinha. Mais presente na vida de quem dele precisava. Muitas mais vezes do que alguma vez eu fui. Quantas vezes eu falhei nestas situações, sem sequer me aperceber. Ele, nunca. Nunca.

Sabia quando eu estava feliz, sabia quando eu estava triste. Sabia quando me podia interromper o trabalho. Sabia quando eu queria mimo. Sabia, como ninguém, pedir mimo. E sempre o recebeu.

Por ele mudámos tantas vezes as nossas vidas. Por ele adaptámos tantas vezes as nossas férias. As nossas saídas de casa. Mas tudo isto sem que fosse uma obrigação. Ele era parte das nossas vidas. Era mais um de nós. E nunca “um de nós” ficou para trás. Ou vamos todos, ou não vai nenhum.

Hoje, passado um ano, ainda sinto a dor daquele murro no estômago. E ainda sinto o coração a ficar mais pequeno quando dou por mim e pensar nele. Esparramado na varanda ao sol, deitado na cama ao lado da lareira, ao quente. A dar cabeçadas no comedouro a ver se encontrava os bagos de arroz que, em tempos, lá pusemos. A pedir pão seco assim que acordava. A passear num dia chuvoso, mas sem nunca pisar as poças de água.

 
O meu melhor amigo chamava-se Gaspar. Era peludo, louro, tinha 4 patas, olhos pretos de chinês, bigodes, nariz molhado e o rabo sempre a abanar. E isto tudo em 42 quilos de ternura e mimo. E inteligência.
Chamava-se Gaspar e não tenho a menor dúvida que, enquanto o tive por perto, fui muito mais feliz. Desde que o perdi, tenho feito tudo para o continuar a ser. Mas ainda são muitos os momentos em que não sou. Porque não o tenho. Porque não sinto o pêlo dele nas minhas mãos. O cheiro da baba. Porque não o vejo. Fisicamente. E vê-lo apenas no coração ou nos meus sonhos, ainda não aprendi a que me chegasse.
Uma palavra a quem não percebe esta dor. Que se lixe. Que se lixe quem não consegue compreender a dor devastadora que se sente quando se perde um animal como se de uma pessoa se tratasse. Porque a questão é mesmo essa: para nós ele era mais uma pessoa nesta casa. Que se lixe quem responde “sim, mas era um cão e cada um deve ter o seu lugar.” Este tinha. E um lugar muito especial: nos nossos corações. Onde, aliás, poucas pessoas cabem. Era um cão especial. E felizmente que, para além de nós, foram alguns os que tiveram a oportunidade de perceber isso.


A quem não percebe esta dor que nos aperta o coração, só posso desejar que um dia tenham a sorte de viver e conviver com uma amizade tão pura como a que recebemos e demos ao Gaspar.

Passou um ano. E 365 vezes pensei que encontrar outro amigo destes poderia ser uma forma de superar a falta que ele me faz. Que ele nos faz. Mas até agora, a mim faltou-me a coragem. Talvez a tenha esgotado em tudo o que de mau me aconteceu ao longo da vida. Ou talvez ainda não tenha chegado a altura certa. Acredito que o tempo vai acabar por ajudar. Mas, por agora, não. Se um dia esse dia chegar, logo se verá.

Mas, no meio de tudo isto, uma coisa já ninguém nos tira: a sorte de, durante 10 anos, termos vivido uma amizade como esta. Incondicional.

Estejas onde estiveres, Gaspar, serás sempre o nosso cão. E tenho a certeza que, estejas onde estiveres, estarás esparramado num canto, confortável, a ressonar e a tremelicar, como quando fazias aqui enquanto sonhavas. E que continuas a ser feliz como foste connosco.
Nós, por aqui, vamos continuar a fazer tudo para sermos também. Sempre contigo no coração. Como sabemos que também nos tens no teu. Para sempre.

 
 

1 comentário:

  1. Marta, acabei de encontrar o teu blog. Adorei este texto. Tenho uma cadelinha de 13 anos que considero minha irmã mais nova (é a cadela da família) e, apenas de imaginar a sua partida, eu congelo por dentro. Espero que em breve essa ausência comece a doer menos.
    Beijinho

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