29 de março de 2013

Ai Portugal, Portugal...

O meu país está “de pernas para o ar”. E a solução não passa por simplesmente pegar nele e pô-lo direito. Ou apenas aconchega-lo nas minhas mãos, trazê-lo para junto do meu peito e dizer-lhe: “vá, tem calma que isto vai passar.”

Até eu tenho dias em que me apetece deixar tudo para trás. Pegar nas pessoas que mais gosto e sair daqui. Mas acredito que isto passe pela cabeça de tantos...Pelo menos algumas vezes na vida. E hoje mais do que nunca.

Não sei se é da falta de sol que não consegue furar as nuvens e a chuva mas, nos últimos dias, era o que fazia. Pegava na trouxinha e desaparecia. A gaita é que não tenho essa coragem. E depois – muito importante - sinto que o meu país precisa mais de mim aqui que lá fora. Ou que os que ficam precisam mais de mim aqui do que longe.
Mas aguentar não é para todos. Quando diariamente, nos media, nos cafés, nos corredores, em todo o lado, o tema é sempre o mesmo. Crise, crise, crise. Já não há boas notícias. E quando elas existem, não se espalham. Porque não vendem. Incrivelmente por isso.

Desespero é olhar para o lado – e agora é mesmo isto, olhar para o lado - e ver uma montanha gigante de gente a sofrer. Gente que de repente deixou de ter dinheiro para pagar contas, para comer. Que teve que emigrar e largar a família para trás. Deixar cá metade do seu coração. Para muitos, a metade mais importante. Que, sempre que se despede, morre um bocadinho por dentro. E vá lá que ainda vai havendo quem têm a oportunidade de emigrar. Porque outros há que nem isso podem fazer e que se limitam a viver na miséria.
Nunca as instituições de solidariedade tiveram tantas pessoas a pedir ajuda. Pessoas que antes tinham uma vida equilibrada. Não de luxo, mas equilibrada. E que agora fazem parte dos chamados “novos-pobres”. Há uns anos atrás havia os “novos-ricos”, hoje há os “novos-pobres”. Um número que dispara todos os dias.
Depois ligamos as televisões, os jornais, e as notícias desmotivam qualquer um. Governantes que não se entendem, que mentem. Que se digladiam aos olhos de todos. Mais austeridade, mais cortes, mais pobreza, mais miséria. Mais desemprego. E nada indica que a coisa melhores nos próximos tempos. Como consequência, o desespero e o aumento daqueles que perdem a cabeça e que, pensando não ter saída, decidem parar de sofrer e acabam com as suas vidas. Muitas vezes também com as dos outros.

E algo que tanto me angustia: até o número dos divórcios diminui pelas piores razões... Com esta p _ _ _ desta crise, as pessoas desistem até da felicidade. Preferem aguentar um casamento de fachada, um amor que já deixou de ser, simplesmente porque dependem do outro, porque sozinhas não conseguem fazer face às despesas. Desistir de ser feliz devia ser proibido.
Todo este cenário arrasta consigo também o aumento dos números da violência doméstica que, desde o início do ano, já ceifou dezenas de vidas. E, atenção, passaram-se apenas três meses.

E o mundo vai-se degradando.
 
Como uma vez disse o grande escrito italiano, Cesare Pavese, “só uma doença nos revela as profundezas funcionais do nosso corpo. Do mesmo modo, pressentimos as do espírito quando estamos em crise.”
E o nosso espírito, a nossa alma sente-se tentada a desistir. E quando isso acontece, é o fim.

Infelizmente não tenho uma solução...No limite, tenho um conselho. Um pedido.
 
 
Agarrem-se às coisas boas da vida. À família, à saúde, aos amigos. A viver um dia de cada vez. A nunca desistir. A nunca se renderam. A lutarem. A terem fé que as coisas vão melhorar. A arranjarem força para enfrentar esta tormenta. Sempre de mãos dadas com quem mais gostam e que partilhem convosco a vontade de vencer.

A história de Portugal é a prova de que os Portugueses são um povo lutador. Destemido. Que, como mais ninguém, há centenas de anos atrás se enfiou em caravelas toscas e enfrentou mares desconhecidos. Descobriu o mundo. Literalmente.
 
Munamo-nos então da coragem de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, Gil Eanes e Diogo Cão, e agarremos o touro pelos cornos.

Lembrem-se: Portugal e os Portugueses nunca desistem. E eu acredito mesmo nisto. Por favor, por vocês, por todos nós, acreditem também.

4 comentários:

  1. Sinto o mesmo. Apetece-me fugir daqui, mas se todos formos embora o que será de Portugal. Todos juntos temos que lutar pelo futuro de todos nós que um dia seremos velhos e precisaremos de cuidados que agora damos aos outros. Temos que cuidar bem dos nossas crianças e jovens para que sejam adultos felizes...Será que ninguém pensa nisso? Se todos forem embora que País deixaremos na História? Como bem o dizes sempre fomos um povo de lutadores e de gente corajosa, determinada e com boa vontade, solidária e muito pacífica. Eu acredito e espero que todos sejamos capazes de quebrar a névoa cinzenta que se abate sobre nós e deixar o SOL iluminar a nossa VIDA.
    Uma Boa Páscoa.
    Beijinhos
    Cristina Amaral aka Romã

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  2. Ganhámso aos Borats do Azerbeijão!!! :)))

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  3. Sinto o mesmo.
    O que mais me assusta é que, se noutras épocas era só por cá hoje é por toda a Europa e pelo Mundo por lá a "coisa" não está melhor.

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  4. Vou partilhar este texto e é já!
    Eu não poderia ter escrito melhor...
    Beijinho de quem deixou metade do coração em Portugal.

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